sexta-feira, agosto 06, 2004

Como aquela grande explosão de uma bomba sobre o Japão
Eu tinha uns 18 anos e namorava um japonês. Na verdade, ele era brasileiro, descendente de japoneses.
Foi um namoro arranjado. Eu morava com a namorada do melhor amigo dele. O casal resolveu nos aproximar. E eu me deixei levar.
Não era apaixonada por ele, mas tava ali, sem fazer nada, e ele era bonito e tão quietinho. Só sorria, aquele sorriso sincero dele.
Saíamos e eu parecia um filhote de cachorro que ele não conseguia controlar: Ria, corria, falava muito e entrava em todas as lojas, bares, lugares. E ele sorria, condescendente. Era mais velho.
Ficamos assim, saindo, um bom tempo. Não havia nada além de uns amassos, eu não tinha pressa. E ele sorria. Aquele paciência nipônica.
Um dia fiz aniversário e ele apareceu com um presente. Me entregou a caixa com a pulseira cheia de pedrinhas. Depois, meio sem jeito, me entregou o cartão, pedindo desculpas porque, sem tempo pra comprar, tinha resolvido desenhar um.
Era de papel vegetal, desenho em nanquim. Uma paisagem japonesa, onde uma menininha de olhos redondos e cabelos enormes, mas presos, estava apanhando um dente-de-leão.
Eu me apaixonei por ele naquele instante. Sorri e ele me sorriu de volta.
Naquele dia dormi na casa dele.
Terminou, claro. não sei onde foi que perdi a pulseira. O cartão tá guardado.
Eu nunca me senti tão especial.
Hoje fazem 59 anos que a bomba foi lançada em Hiroshima. E eu me lembrei do Kazuo.