sexta-feira, março 25, 2005

Azul, amarelo, vermelho também
A Páscoa era o renascimento de Jesus e uma dúvida na minha cabeça. Como que Ele podia estar em Jeruzalém pra Páscoa se, ao que tudo indicava, não podia ainda haver uma Páscoa...Se Ele ainda não havia morrido, como poderia renascer? Confusões judaico cristãs na minha cabecinha, enquanto procurava minhocas no quintal.
Mas, enfim, o fato era que antes do Domingo de Páscoa, com seus almoços fartos e ovos de chocolate escondidos em lugares improváveis, havia a Sexta-feira da Paixão.
E neste dia a gente não podia comer carne, nem falar muito alto, nem rir, nem correr em volta da casa, nem nada. E por isso mesmo passávamos o dia todo fazendo exatamente isto e sendo persseguidos pela minha avó. Neste dia também tínhamos que ir na Matriz velar o Cristo morto. Ficávamos lá por pelo menos uma hora, rezando e com o rosto constrito. Crianças são atores natos, depois perdem um pouco a mão.
Então, vinha o Sábado de Aleluia, com a sádica malhação do Judas. Todos se divertiam despedaçando um boneco a pauladas e chutes na maior demonstração prática do espírito de perdão ao próximo.
Depois, enfim, o Domingo de Páscoa. Primeiro a missa, depois a festa.
Hoje, não frequento mais a missa. Mas ainda converso com padres, leio textos religiosos e tento entender dogmas, rituais. E, por mais que saiba de tanta coisa ruim, ainda é uma Igreja católica o lugar que minha mente associa a sagrado. Ainda entro numa Igreja quando estou perdida. Ainda choro ajoelhada e peço ajuda em momentos de angustia.
Não se passa incólume por uma infância como a minha.