sexta-feira, outubro 28, 2005

Acendi uma vela, abri a janela e pasmei
Tenho medo do inferno ocasionalmente.
Não aquele medo filosófico, de pensar na humanidade e em mim.
não aquele medo de adulto se deparando com a cara no espelho.
O outro medo.
Das entranhas, infantil.
Aquele que aprendemos na igreja cheia de capetas e chifres e caldeirões eternos.
Tenho medo de arder no fogo do inferno. Como minha avó costumava nos ameaçar nas nossas artes.
É um medo que vem antes de raciocinar. Um frio na espinha. Reação instintiva quase.
Faço artes piores agora. Penso coisas terríveis. Desejo coisas demais.
O medo vem. Me espeta. E vai.
E eu sinto, depois ignoro e sigo fazendo minhas artes.
Como criança.

Tempestade Louca no Saara
Gosto de tempestades.
A côr do céu meio desvairada e a fúria dos relâmpagos.
A coisas mudam de aspecto.
E, depois, tudo fica limpinho.
Parece minhas faxinas. Minha vó dizia que eu limpo as coisas quase destruindo.
Quase. As vezes acontece de eu destruir mesmo algo na tentativa de limpar.
Como as tempestades.

quinta-feira, outubro 20, 2005

Feed me
Não se preocupe,
Não pense que cobro.
Não se cobre.
A vida espalha mesmo o tempo,
Complica.
E eu?
Eu quero um banquete,
Mas sobrevivo com migalhas.

quarta-feira, outubro 19, 2005

-5
Eu sei dos fusos. Mas faço confusão.
Só que as minhas memórias, da sua voz de sono,
Não são nada confusas.
E despertam meus sonhos.
Aguçam meus sentidos.
Me põe em alerta.
E agora, dormir como?

segunda-feira, outubro 10, 2005

Prática

Como a fúria da tempestade
Que se forma, castanha, no horizonte,
E se desfaz, sem causar danos,
Sobre a floresta agradecida.

Como a tormenta que crispa o mar,
Ameaça os transantlânticos,
E se desmancha, em espuma,
Beijando os barquinhos que beiram a praia.

Como a nuvem de gafanhotos,
Que escurece o sol de verão,
E pousa quieta e inapetente,
Deixando a plantação intacta.

Assim é o meu amor,
Devastador e inútil,
Neste dia azul, sem nuvens.